Há segredos na tradição
portuguesa que não são propriamente segredos, mas modos de vida. Já alguma vez
teve o privilégio de provar o azeite caseiro que se vai fazendo pelas aldeias
do interior beirão e transmontanas. Os supermercados vendem dezenas de tipos de
azeites de várias formas de produção, mas o que nunca vai encontrar num
supermercado é o azeite oriundo de olivais que na verdade não são olivais. E é
aí que reside a grande diferença. Enquanto o azeite para produção e venda ao
consumidor tem origem em grandes olivais que são exclusivamente isso mesmo,
olivais, o azeite que se faz nas nossas aldeias tem origem em oliveiras que
figuram em terrenos agrícolas e de pasto. Em terrenos que são essenciais às
atividades de subsistência das famílias e em qual a mão do homem tem um papel
fundamental.
Sendo assim, podemos então
dizer que o azeite caseiro produzido nas aldeias portuguesas não provem de
olivais, mas sim de terrenos polivalentes e multifacetados sazonalmente. Em
terrenos onde é semeado milho e centeio. Em terrenos onde figuram pequenas
hortas com a mais variada panóplia de legumes e frutos. Em terrenos que quando
estão de pouso brotam lindas flores silvestres e servem de pasto para os mais
diversos animais de quinta como cabras, ovelhas, vacas e galinhas, que por sua
vez contribuem para a fertilização natural dos solos. Em terrenos que são
visitados por uma grande variedade de vida selvagem como coelhos, raposas,
texugos e repteis. Visitados por uma enorme variedade de passeriformes que
nidificam muitas vezes na ramagem das oliveiras como pardais, melros,
estorninhos, verdilhões, pintassilgos, poupas e gaios. Em terrenos onde a terra
é revolvida sazonalmente pela intervenção humana. Em terrenos que estão na maioria
das vezes inseridos no seio das povoações.
Podemos ir então ainda
mais longe e dizer que este azeite das aldeias portuguesas é o autêntico azeite
biológico. Ouro líquido que corre num fio dourado para os pratos das famílias
que colhem o fruto do seu trabalho anual.
(neste artigo não são abordadas
questões relacionadas com a vareja, a apanha da azeitona e o fabrico do azeite
uma vez que este ciclo será alvo de uma reportagem própria no tempo devido)
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