terça-feira, 23 de maio de 2023

A Criança, a Aldeia e o Mundo...

Ao ser criança na aldeia, ele tem mais mundo do que em outro qualquer lugar do mundo, especialmente na cidade. Pode ser difícil percecionar isso no olhar já desvirtuado do adulto, mas é facílimo percebe-lo através do coração puro de uma criança e nota-lo no seu sorriso genuíno. O adulto precisa da cidade para ter trabalho, que ao mesmo tempo é a sua prisão eterna. A criança precisa da aldeia para ter a coisa que a faz mais feliz, a liberdade. Aquela que é impossível ter quando os pais vão já tarde buscar os filhos à escola e pouco mais tempo têm do que para jantar juntos, num galinheiro urbano, depois de várias horas no trânsito, a vida toda. É verdade que agora ele já não tem tantas crianças como tinham os seus pais em crianças. Mas por viver na aldeia, consegue ter mesmo assim mais tempo útil com outras crianças, pois na cidade só teria esse contacto na escola. Ele nem sequer quer saber desse mundo poluído para nada, vai ter tempo para isso um dia, agora só quer ser criança onde uma criança pode ser mais feliz. Jogar à bola na rua, correr pelos caminhos, embrenhar-se nas matas. Estar sempre em contacto com os avós que moram já ali, com os tios que moram além, andar de bicicleta pelos campos, falar com toda a gente e aprender algumas tradições e atividades rurais que ainda se mantêm vivas e promovem o convívio familiar, o convívio social, a transmissão de saberes intergeracionais, a portugalidade, a genuinidade, a humildade. Aqui na aldeia os tempos também avançaram. Há internet como em qualquer outro lado, já não há inexistência de programas culturais, com o evoluir das vias de comunicação as vilas e as cidades ficaram muito mais perto. Mas ainda assim, isso nem revela assim tanta importância quando uma criança só quer ser criança sem o peso daquilo que os adultos acham que uma criança deve queres. Aqui há o mais importante. A segurança, a natureza e a liberdade que o farão conhecer-se a ele próprio ao ritmo da naturalidade da vida. Dirá o coração corrompido do adulto pela ilusão da vida na cidade que ainda assim lhe faltará alguma coisa, quando na verdade, para ser criança que é o que ele é, não lhe falta mesmo nada nem ele sente falta de nada. Falta sim alguma coisa, e não pouca, ao seu semelhante da cidade. O mundo das crianças não é aquele que os adultos querem para elas, é o que elas próprias querem para elas. Só uma criança consegue sentir como uma criança, mesmo que a sua aldeia seja o seu mundo.









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