Ao ser criança na aldeia, ele tem mais
mundo do que em outro qualquer lugar do mundo, especialmente na
cidade. Pode ser difícil percecionar isso no olhar já desvirtuado
do adulto, mas é facílimo percebe-lo através do coração puro de
uma criança e nota-lo no seu sorriso genuíno. O adulto precisa da
cidade para ter trabalho, que ao mesmo tempo é a sua prisão eterna.
A criança precisa da aldeia para ter a coisa que a faz mais feliz, a
liberdade. Aquela que é impossível ter quando os pais vão já
tarde buscar os filhos à escola e pouco mais tempo têm do que para
jantar juntos, num galinheiro urbano, depois de várias horas no
trânsito, a vida toda. É verdade que agora ele já não tem tantas
crianças como tinham os seus pais em crianças. Mas por viver na
aldeia, consegue ter mesmo assim mais tempo útil com outras
crianças, pois na cidade só teria esse contacto na escola. Ele nem
sequer quer saber desse mundo poluído para nada, vai ter tempo para
isso um dia, agora só quer ser criança onde uma criança pode ser
mais feliz. Jogar à bola na rua, correr pelos caminhos, embrenhar-se
nas matas. Estar sempre em contacto com os avós que moram já ali,
com os tios que moram além, andar de bicicleta pelos campos, falar
com toda a gente e aprender algumas
tradições e atividades rurais que ainda se mantêm vivas e promovem
o convívio familiar, o convívio social, a transmissão de saberes
intergeracionais, a portugalidade, a genuinidade, a humildade. Aqui
na aldeia os tempos também avançaram. Há internet como em qualquer
outro lado, já não há inexistência de programas culturais, com o
evoluir das vias de comunicação as vilas e as cidades ficaram muito
mais perto. Mas ainda assim, isso nem revela assim tanta importância
quando uma criança só quer ser criança sem o peso daquilo que os
adultos acham que uma criança deve queres. Aqui há o mais
importante. A segurança, a natureza e a liberdade que o farão
conhecer-se a ele próprio ao ritmo da naturalidade da vida. Dirá o
coração corrompido do adulto pela ilusão da vida na cidade que
ainda assim lhe faltará alguma coisa, quando na verdade, para ser
criança que é o que ele é, não lhe falta mesmo nada nem ele sente
falta de nada. Falta sim alguma coisa, e não pouca, ao seu
semelhante da cidade. O mundo das crianças não é aquele que os
adultos querem para elas, é o que elas próprias
querem para elas. Só uma criança
consegue sentir como uma criança, mesmo que a sua aldeia seja o seu
mundo.
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