A vida faz-se
a cada gesto, a cada passo, a cada atitude. A agricultura de subsistência e a
criação de animais nas aldeias portuguesas é esse gesto, esse passo, essa
atitude. Há um lugar onde o trabalho do campo dita o modo de vida das pessoas.
Esse lugar são muitos lugares, nesse Portugal esquecido por muitos que está tão
vivo como as industrias, o comércio e as cidades.
A
vida na aldeia começa cedo, quando os primeiros raios de sol perdem a timidez e
se mostram à povoação e termina quando estes decidem repousar por de trás dos
montes que a vista alcança. Os afazeres são muitos. Há animais para acomodar,
há terrenos para lavrar, quintais para cuidar, lojas para estrumar, lenha para
acartar.
Aos
setenta e poucos anos de idade, o tio Herculano recorda os tempos de mocidade
quando levava as ovelhas de monte em monte, serra em serra, fizesse chuva
fizesse sol. Os animais precisavam de pasto e era ao seu encontro que guiava o
rebanho acompanhado pelo cão. Por caminhos lamacentos, ingremes, mal formados,
desbravava mato e chegava a ficar dias até regressar a casa para devolver os
animais à corte para a ordenha. Palhoça e polainas impermeabilizavam-no das
chuvas invernosas da montanha. Histórias de tempos idos, difíceis de acreditar
e que hoje não se repetem na mesma medida. Apesar de confirmar tempos difíceis,
a tia Albertina recorda com saudade os tempos das desfolhadas, das escanadas,
da apanha da batata. Eram dias compridos de trabalho árduo é certo, mas também
eram dias de reencontro e convívio. A aspereza do trabalho era afugentada pelos
cânticos em coro que levantavam o ânimo e davam forças para continuar a
jornada. Forças que também recebiam do farnel que partilhavam levado a horas
certas por quem ficava em casa a prepara-lo e palmilhava quilómetros por caminhos
serranos de cabaz na cabeça ao encontro aos merecedores destinatários. No final
do dia carregava-se a carroça das vacas unidas por um jugo e que à força das
patas percorriam caminhos por vezes difíceis de volta à povoação.
É
certo que os tempos são outros. A evolução varreu o país de norte a sul, do
litoral ao interior. No entanto, em milhares de locais por esse Portugal a
fora, a agricultura e a criação de animais continuam a fazer parte do
quotidiano de povoações inteiras. Apesar de haver cada vez mais terrenos
agrícolas abandonados, principalmente os de difícil acesso, assiste-se a uma
resistência de quem depende desta actividade para viver o seu dia-a-dia.
Gostava
que aceitasse o meu convite e viesse comigo conhecer pessoas que fazem da sua
labuta diária a bandeira das suas vidas. Pessoas que limpam o suor do rosto
para voltar a erguer a enxada, que ensopam os pés na lama abrindo labirintos
hídricos com o sacho por entre canas de milho e estacas de feijoeiros, que
acomodam o vivo que cresce nos corrais. Venha comigo conhecer pessoas que fazem
do nosso país, Portugal.
Muito bom sr Bruno
ResponderEliminarObrigado :)
EliminarMagnífico.
ResponderEliminarMuito obrigado :)
EliminarExcelente, como sempre são as tuas reportagens...
ResponderEliminarMuitos parabéns, Bruno...
(vou tomar a liberdade de copiar integralmente no meu blog)
Sempre às ordens João. E muito obrigado pelas palavras :)
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