quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Uma História de Outono

O burburinho das atividades veraneias já lá vai e com a chegada do Outono, findas as vindimas, os afazeres do campo começam a amainar. Continua a acordar antes do sol nascer, é verdade, mas também com esta idade já não sabe ser de outra forma. Agora já sabem bem uma ou duas cavacas na lareira para acompanhar o café de cafeteria e o pão com queijo. Alimentar o vivo e dar um jeitito à horta com o apanágio da época faz-se numa manhã, daí que depois de almoço lance pernas em direção às matas, pisando a caruma molhada, em busca das relíquias micológicas com que a natureza nos brinda nesta altura do ano. São dezenas de anos a apanhar cogumelos por isso não há que ter medo de enganos. Os míscaros são os reis pela quantidade, mas os boletos são-no pela nobreza de tão admirável cogumelo. Mas as sanchas também não são para deixar para trás e ao passar à beira dos lameiros há que redobrar a atenção em busca dos tortulhos. Antes do anoitecer e com tempo de regressar a casa à luz do dia, já a cesta vem recheada. Tão bonita que podemos dizer que traz o Outono todo lá dentro. E por entre matagais de odor resinoso, caminhos antigos e carreiros, ouvindo ao longe as trindades nos sinos da igreja, lá chega a casa ainda a tempo de arranjar a colheita e fazer já a prova de alguns. Torna-se a acender a fogueira que além de aquecer o ambiente, comem-se já uns tortulhos na brasa com umas pedrinhas de sal, pois assim também se aquece a alma. Amanhã talvez ela saia para encher outra vez a cesta.


 

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